Nestes meses de “Big Brother”, colecionei e-mails de torcedores de Marcelo Dourado. Acho que fui guardando as mensagens por curiosidade antropológica: a grande maioria delas é ofensiva e eu não sou masoquista. O participante que tem uma suástica tatuada no braço e levanta da mesa quando o assunto é sexo gay está na final. Hoje saberemos se vai vencer. Ao longo do programa, ele, excelente jogador e muito inteligente, foi se transformando. Semana passada, numa fábrica de chocolate, lembrava a candura de uma Vovó Donalda confeitando ovos de Páscoa.

Se Dourado levar o milhão e meio esta noite, isso acontecerá com o apoio de, por exemplo, Marco, que escreveu: “Acho que o Marcelo tem toda razão em relação aos homossexuais, pois, assim como ele, apesar de respeitar o direito de cada um, eu não gosto de homossexuais, assim como muita gente por aí que não tem coragem de assumir. Sou homem, assim como Marcelo, e se viesse a público exporia minha opinião. Vivemos num tempo em que ser gay é algo normal, homens juntos, mulheres morando juntas... Onde iremos parar com esse cinismo e pouca vergonha?”. E também de Diego, que escreveu um longo e-mail: “A suástica tatuada no braço do participante é diferente daquela imortalizada pelo regime nazista. É invertida, ligada ao budismo”. Ou da enfática Maria Helena: “Você é patética! Isso é chororô de perdedor”.

Há muitos outros, mas falta espaço aqui para reproduzir. É importante lembrar que a este altura da História, não dá para dissociar uma suástica de tudo o que ela simbolizou no século passado. E as posições de Dourado são mesmo tão estranhas quanto a sua tatuagem, nem na fábrica de chocolate deu para esconder. Mas enxergar nele alguma capacidade messiânica talvez seja supervaloriza-lo. No fundo, ele se mostrou menos assustador que seus defensores. E bota assustador nisso.

FONTE PATRICIA KOGUT (GLOBO.COM)

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